Depois de lamentar a perdição das hostes rebeldes, o Eterno, em lentos passos, ausentou-se do jardim do Éden, lugar do trono Universal.
Onde seria agora a Sua morada?
As hostes fiéis acompanharam reverentes os Seus misteriosos passos de abandono, que pareciam descerrar um futuro difícil, de sofrimentos e humilhações.
Ocupariam os rebeldes o divino trono, profanando-o como domínio do pecado?
Esta indagação torturava o coração dos súditos do Eterno.
Deixando Sua amada Cidade, o Senhor da luz conduziu-Se, em meio às glórias do Universo, em direção do abismo imenso, a respeito do qual silenciara até então.
Ali deteve-Se mais uma vez, emudecido, enquanto parecia ler nas trevas um futuro de grandes lutas.
Ante o sofrimento do Eterno, expresso na tristeza de Seu semblante, os fiéis puderam finalmente compreender o significado daquele misterioso abismo: consistia numa representação simbólica do reino da rebeldia.
Na face entristecida de Deus manifestou-se, por fim, um brilho que aos fiéis animou.
Erguendo os poderosos braços ante as trevas ordenou em alta voz: "Haja luz."
Imediatamente, a luz de Sua presença inundou o profundo abismo e, triunfando sobre as trevas, revelou um mundo inacabado, coberto por cristalinas águas.
Com esse gesto, iniciava o Eterno uma grande batalha pela reivindicação de Seu governo de luz; batalha do amor contra o egoísmo; da justiça contra a injustiça; da humildade contra o orgulho; da liberdade contra a escravidão; da vida contra a morte.
Batalha que, sem trégua, se estenderia até que, no alvorecer almejado, pudesse o divino Rei retornar vitorioso ao santo monte Sião, onde, entronizado em meio aos louvores dos remidos, reinaria para sempre em perfeita paz.
As trevas, em sua fuga, apontavam para o aniquilamento final da rebeldia.
As águas abundantes que cobriam aquele mundo, até então oculto, simbolizavam a vida eterna que para os fiéis seria conquistada pelo amor que tudo sacrifica.
O mundo revelado era a Terra.
Visitada pelas trevas e pela luz, ela seria o palco da grande luta.