Um completo silêncio pairava sobre o Universo.
Em cada planeta habitado, os filhos da luz contemplavam impotentes aquela angustiante cena.
O futuro deles estava em jogo.
Em Jerusalém havia grande comoção.
Poderosos anjos apresentaram-se diante do Criador, solicitando permissão para esmagarem o covarde inimigo, oculto naquela serpente.
O Eterno, contudo, impediu-lhes tal ação.
Se o uso da força fosse a solução, já o teria aplicado.
Deviam respeitar o livre-arbítrio concedido ao homem, podendo ele manifestar sua escolha sob a tentação do inimigo.
Os filhos da luz sofriam imensamente ao verem a mulher duvidando d’Aquele que tão bondosamente lhes dera a vida e a oportunidade de reinarem naquele paraíso.
Como poderia duvidar de quem lhes dedicava tanto amor?!
Adão, que numa forte esperança de assegurar a acalentada vitória apressava-se em sua corrida, contemplou ao longe sua amada, assentada junto à árvore da prova.
O que fazia Eva naquele lugar tão perigoso?!
Um pressentimento horrível lhe sobreveio, ao lembrar-se mais uma vez das advertências recebidas, mas procurou bani-lo como pensamento de que alcançaria sua esposa antes que algum mal lhe ocorresse.
Eva vacilava em sua convicção ao contemplar o fruto em suas mãos.
Seu brilho, seu encanto, uma forte magia atraia aquele fruto a sua boca.
Por alguns momentos o futuro pareceu-lhe sombrio e aterrador, mas venceu esse sentimento, pensando nas glórias que haveria de conquistar ao comer aquele fruto.
Ainda um tanto indecisa ergueu vagarosamente as mãos até tocar o fruto com os lábios.
Os súditos do reino da luz, estremecidos, inclinaram-se tomados por grande espanto.
Parecia quase impossível, àquela altura, a mulher voltar atrás.
Enquanto pálidos os fiéis indagavam sobre uma possível esperança, presenciaram com horror a terrível decisão de Eva: resolvera romper para sempre com o Criador, tornando-se cativa da morte.
O Eterno, que em silêncio e dor contemplava aquela cena de rebelião, curvou a fronte a face banhada de lágrimas.
Não podia suportar a dor daquela separação.
Os fiéis, que em pânico julgavam-se vencidos, foram conscientizados de que nem tudo estava perdido.
Se Adão resistisse à tentação, permanecendo fiel ao Eterno, ele selaria a grande vitória.
Eva, que fora vítima de um engano, poderia ser conscientizada de seu erro, sendo favorecida com o perdão divino.
Quando Adão em sua angustiosa corrida alcançou o lugar da árvore, já era tarde demais.
Assentada junto ao rio, Eva saboreava despreocupadamente o fruto proibido.
Adão estremeceu.
Seria mesmo o fruto da prova?
Num gesto de esperança olhou para a árvore da ciência do bem e do mal, mas em pranto reconheceu a triste condenação.
Cheio de tristeza contemplou sua esposa, mas não encontrou palavras para despertá-la para tão amarga realidade.
Em completo desespero ergueu a voz numa dolorosa exclamação:
"Eva, Eva, o que você está fazendo!".
Ao comer do fruto proibido, a mulher foi tomada por emoções que a fizeram imaginar haver alcançado uma esfera superior de vida.
Ao ouvir a voz de seu esposo, ainda tomada pelas ilusórias emoções, ergueu a fronte estampando um sorriso, mas surpreendeu-se ao vê-lo chorando.
Com profunda amargura, Adão procurou saber a razão que a levara a rebelar-se contra o Eterno.
Eva, prontamente, passou a contar-lhe a fantástica história da sábia serpente.
Satanás sabia que essa história de serpente jamais convenceria o homem a comer do fruto da árvore proibida.
Precisava encontrar uma maneira sutil de levá-lo a selar sua sorte seguindo os passos de sua esposa.
Tendo Eva sob seu poder resolveu fazer dela o objeto tentador.
Aguardaria o momento oportuno para enlaça-lo.