Em todo o Universo os filhos da luz sofriam e pranteavam a derrota.
Nunca houvera tanta tristeza e horror ante o futuro.
As vozes que viviam a entoar louvores ao Criador proferiam agora lamentações.
O Eterno, que vencido por infinita dor prostrara-Se em pranto ante a queda do homem, não fora, contudo, surpreendido.
Pois, antes mesmo de criar o Universo já havia previsto esse triunfo da rebeldia e, em Sua sabedoria e amor, idealizara um plano de resgate que O envolveria num imenso sacrifício.
Enxugando as lágrimas de Seu pranto, pôs-Se a agir poderosamente em favor de Seus fiéis aflitos, impedindo-os de caírem nas mãos dos inimigos.
Nessa misteriosa intervenção que aparentemente depunha contra a justiça, o Eterno ordenou que Seus mais poderosos anjos circundassem imediatamente o jardim do Éden, impedindo que Satanás tomasse posse do monte Sião.
Consoladas ante a manifestação divina, as potentes criaturas, em pronta obediência, romperam o espaço infinito, circundando em instantes o paraíso, no seio do qual o ser humano, já transtornado pelo pecado, vivia o negror de uma noite que seria longa e cruel.
Sendo a autoridade do Eterno fundamentada na justiça, de que maneira poderia justificar Suas ações diante dos inimigos?
Não entregara por Sua vontade o reino ao homem, e esse por livre escolha não o submetera a Satanás?
Enquanto surpresas as criaturas racionais consideravam as ações decisivas de Deus, ouviram Sua potente voz que, repercutindo por toda a criação, trazia a revelação do grande mistério; revelação tão maravilhosa que a partir daquele momento, por toda a eternidade, ocuparia a mente dos fiéis, sendo tema para as mais doces meditações.
O Eterno falou primeiramente sobre a terrível condenação que pendia sobre o homem e toda a criação.
Disse que, ao se desligar da Fonte da Vida, o homem havia se precipitado em tão profundo abismo que não poderia ser alcançado pelo Seu braço de justiça e poder.
Humilhado e torturado pelas garras do inimigo, não restava ao homem outra sorte além da morte; fruto doloroso de sua espontânea rebelião.
Considerando a situação humana, as hostes da luz não viam possibilidades de triunfo.
Sabiam que só o homem poderia retomar o domínio do inimigo, devolvendo-o ao Criador.
Mas o ser humano, eternamente escravizado em sua natureza, seria incapaz de tal vitória.
Com voz melodiosa e cheia de ternura, Deus revelou o plano da redenção, dizendo:
Na verdade, o homem colherá o fruto de sua rebelião numa terrível morte.
Não posso, com o Meu poder, mudarlhe a sorte.
Se assim agisse, seria injusto diante de meu decreto.
Mas farei cair toda a condenação sobre um Redentor que surgirá na descendência humana.
Esse Homem não trará em suas mãos as algemas da morte, sendo inocente e incontaminado em Sua natureza.
Como representante da raça humana, enfrentará Satanás e o vencerá.
Após triunfar nessa batalha, provando que o amor é mais forte que o egoísmo, que a verdade é mais forte que a mentira, que a humildade é mais poderosa que o orgulho, o fiel Redentor erguerá as mãos vitoriosas não para saudar a grande conquista, mas para tomar das mãos da humanidade escravizada à taça de sua condenação.
Sorverá assim, submisso, o cálice da eterna morte.
Esse imenso sacrifício abrirá aos seres humanos uma oportunidade de serem redimidos, voltando aos braços do Criador, juntamente com o domínio perdido.
As hostes, surpresas ante a revelação do Eterno, indagaram a identidade d'Esse Redentor.
O Criador, com um sorriso amoroso, disse-lhes:
Parte de Mim será esse Homem.
O Meu Espírito repousará sobre uma virgem, e nela será gerado um Filho Santo.
Esse menino será divino e humano.
Em sua humanidade, ele será submisso à divindade que n’Ele habitará.
Os remidos verão n'Ele o Pai da Eternidade, o Criador e Redentor, o Rei dos reis.
O Seu nome será Jesus (Yoshua nome hebraico que traduzido significa o Eterno salva).
Assumindo a natureza humana, Deus poderia pagar o resgate, morrendo em lugar dos pecadores.
As hostes da luz ficaram emudecidas ao conhecer o plano do Criador.
O pensamento de verem-No submeter-Se a tão penoso sacrifício, a fim de redimir o domínio perdido, era demais para suportarem.
Não havia, contudo, outra esperança de vitória, a não ser através dessa amorosa entrega.