A noite já ia alta e as trevas pareciam envolver o triste casal em eternas sombras.
Nem sequer cogitavam em suas poucas palavras, sufocadas pela agonia, de um alvorecer.
Cabisbaixos, tateavam daqui para ali, na expectativa do juízo iminente, que os reduziria ao frio pó, esquecido sob aquelas trevas sem fim.
Quando surgiu repentinamente um brilho no céu, que ia aumentando à medida que se aproximava da Terra.
O casal estremeceu, pois sabia que era o Criador que vinha dar-lhes o castigo.
Vencidos pelo pânico, puseram-se a correr, distanciando-se do monte Sião, o lugar da vergonhosa queda.
Justamente para ali viram o Criador dirigir-Se.
Eles, que sempre corriam ao encontro do amoroso Pai, atraídos por Sua luz, fugiam agora desesperados em busca de lugares escuros, de densa floresta.
O Eterno, movido por infinito amor, passou a seguir os passos do casal fugitivo.
Enquanto caminhava, chorava ao lembrar os momentos felizes que havia passado junto a eles naquele paraíso.
Como tudo se transformara!
Seus filhos não conseguiam mais ver n'Ele um Pai de amor, mas alguém que, irado, buscava castigá-los.
Movido por forte anseio de abraçar Seus filhos humanos, Deus fez ecoar a voz numa indagação:
“Adão, onde vocês se encontram?”.
Sua voz, ao soar em meio às trevas, trazia consigo somente um eco vazio que falava de ingratidão e rebeldia.
Como desejava envolver o casal num ardoroso abraço, e com palavras de carinho confessar-lhe que Seu amor era o mesmo!
Ao ver Seus filhos fugindo de Sua presença, o Eterno foi tomado de grande dor.
Ante Seu olhar mareado de lágrimas estendia-se o futuro da raça humana.
Quantos, enganados por Satanás, fugiriam de Sua presença no decorrer da longa noite de pecado, julgando-No um Senhor tirano, que vive buscando falhas e fraquezas nos pecadores, a fim de castigá-los!
O Criador, todavia, não desistiria de procurá-los pelos vales sombrios do reino da morte, até conquistar um povo arrependido.
Adão e Eva, exaustos pela pressurosa fuga, esconderam-se por entre a folhagem de um pé de figueira.
Reconhecendo sua nudez procuraram fazer aventais cosendo aquelas folhas.
Vestidos assim julgaram poder livrar-se do sentimento de vergonha ante o Criador.
O Eterno, aproximando-Se do local onde o casal se escondia, perguntou:
“Adão, onde estão vocês?”.
Não podendo mais se ocultar de Deus, Adão ergueu-se juntamente com sua companheira e, cabisbaixos, apresentaram-se ao Criador, prostrando-se trêmulos a Seus pés.
Não conseguiram encará-Lo mais, devido ao senso de culpa.
O Criador, carinhosamente, tomou-os pelas mãos, erguendo-os do chão, e, com expressão de tristeza no semblante, perguntou-lhes:
“Por que vocês fugiram de Mim? Acaso comeram do fruto da árvore da ciência do bem e do mal?”.
Adão, todo trêmulo, com voz entrecortada de temor, respondeu:
“A mulher que me deste por companheira, ela deu-me o fruto e eu comi”.
Com esta resposta, Adão procurava desculpar-se, lançando a culpa sobre sua companheira.
Voltando-Se para Eva, o Eterno indagou-lhe:
“Por que você fez isso”?
Eva prontamente respondeu-Lhe:
“Aquela serpente me enganou e eu comi”.
Ambos não queriam reconhecer a culpa, lançando-a sobre outrem.
Em suma, atribuíam ao Criador a responsabilidade por todo o mal praticado e indagavam:
Por que concedera-lhes o livre-arbítrio? Por que criara a mulher? Por que criara a serpente?
Em silêncio, Deus observava Seus filhos que, tímidos e desconcertados, permaneciam diante de Si.
Com profunda tristeza, Ele previu que essa seria a experiência de incontáveis seres humanos no decorrer da história.
Quantos haveriam de se perder por não reconhecerem a própria culpa!
Quantos procurariam justificar-se, lançando seus erros sobre os outros e até mesmo sobre o Criador!
Com palavras brandas, o Eterno procurou fazê-los reconhecer sua culpa.
Somente reconhecendo sua necessidade, poderiam ser ajudados.
Olhando para as frágeis vestes tecidas por mãos pecadoras, disse ao casal:
“Filhos, essas vestes são insuficientes, logo secando se desfarão”.
Vocês precisam de vestes duradouras, que possam cobrir vossa nudez, livrando-vos da condenação.
Se vocês quiserem, Eu posso dar-lhes essa veste.
Ante as palavras bondosas do Criador, que traziam esperança, o casal prostrou-se arrependido, despindo-se de suas ilusórias vestes, símbolos de seu fracasso.
Almejavam agora as vestes da salvação, prometidas pelo divino Pai.