Amparando Adão e Eva em seus passos, o Criador conduziu-os através de um vale ferido, até alcançarem o sopé de uma colina.
Galgaram-na em lentos passos, enquanto trocavam palavras de ânimo e esperança.
Seus pés alcançaram finalmente a relva macia que cobria o topo espaçoso daquela colina.
Era sobre aquele lugar que o casal via a cada dia o sol declinar, banhando o céu e os vales de um vermelho vivo, como o sangue que jorrara do peito do cordeiro.
Voltando-se para o lado oriental, o casal, num misto de dor e saudade, contemplou ao longe as paisagens que os envolveram naquele passado tão feliz.
Ao divisarem o monte Sião, que majestoso erguia-se no meio do Éden, choraram ao lembrar da queda.
Quão fracos tinham sido!
O sol declinava em sua jornada, anunciando a chegada de mais uma triste noite - a primeira fora do paraíso.
Num calmo gesto, o Eterno, mostrando-lhes o vale sobranceiro à colina, falou-lhes com carinho:
“Aqui será vossa provisória morada”.
Daqui podereis contemplar o paraíso que por algum tempo permanecerá na Terra, até ser recolhido ao seu lugar de origem, no seio da Jerusalém Celeste.
Ali, protegido pela justiça, aguardará o alvorecer da vitória.
“Quando esse grande dia chegar, retornaremos juntos a Sião, onde seremos coroados em glória, num reino de eterna felicidade e paz”.
Depois de dizer estas palavras, Deus ordenou ao casal que construísse naquele lugar um altar de pedras, sobre o qual a cada semana, na noite que antecede o sábado, deveriam imolar um cordeiro, pela memória de Seu sacrifício.
Como sinal de Sua presença, e para a certeza de que seus pecados seriam perdoados, Ele acenderia um fogo sobre o altar, o qual duraria toda a noite, até consumir por completo a oferta do sacrifício.
Para que o ser humano pudesse firmar sua fé sobre as verdades reveladas, e não na manifestação visível da pessoa do Criador, Ele haveria de permanecer invisível daquele momento em diante.
Somente em ocasiões especiais, quando se fizesse necessário Sua aparição ou a de anjos para novas revelações e advertências, isto ocorreria.
Contemplando os Seus filhos entristecidos naquele momento em que seriam deixados aparentemente sozinhos.
O Eterno disse-lhes com amor:
“Filhos, embora vocês tenham de permanecer neste ambiente hostil, não precisam temer, pois Eu permanecerei ao lado de vocês”.
Serei um companheiro amigo nesta jornada; levarei sobre os meus ombros suas dores, seus anseios, suas lutas.
Quando, tentados pelo inimigo, estiverem a ponto de ceder, poderão encontrar abrigo em meus braços, que sempre estarão estendidos para salvá-los;
E, se algum dia vocês não resistirem, e pela fúria do inimigo forem arrastados para as profundezas do abismo;
Não se desesperem julgando não haver esperança, pois Eu estarei ali para acudi-los com o meu perdão e força.
Tenham sempre em mente o significado das vestes recebidas das minhas mãos, pois elas falam da redenção que ao homem pertence.
”Descansem filhos meus, nos meus braços de amor”.
Depois de consolar o casal com estas promessas, o Criador, vendo que estavam sonolentos pelo cansaço, os fez reclinar no Seu colo e, como de costume, acariciou-os docemente até adormecerem.
Ao vê-los esquecidos em seu sono, Deus chorou ao prever o sofrimento que experimentariam ao acordar.